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Saúde mental e COVID 19: recomendações e reflexões psicológicas para momentos de crise



Falar sobre saúde mental nesse período de pandemia requer olhar para alguns aspectos que surgem com ela, especialmente as mudanças na rotina, o excesso de cobrança, o isolamento, a insegurança e ansiedade próprias deste momento. A mudança de rotina gera um processo de adaptação que não é fácil, nem rápido para assimilar. Tendemos a nos cobrar funcionar no mesmo ritmo que funcionávamos antes da pandemia e isso não é possível. Afinal, os estímulos dentro de casa são outros e as demandas, também. Biologicamente falando, vivemos uma série de mudanças, em especial para quem pode aderir ao isolamento social: ficamos menos expostos ao sol e, menores índices de vitamina D tem relação com menor sensação de saúde e bem estar. Além disso, tendemos a fazer menos atividades físicas e a ingerir mais alimentos, principalmente aqueles ricos em açúcar (na busca instintual de melhorar nossos níveis de Serotonina - substância associada ao prazer), mas que não necessariamente são alimentos saudáveis. Psicologicamente, tendemos a ficar em estado de alerta e estresse constante. Tendemos a consumir mais do que precisamos (sejam alimentos ou itens de consumo básico), na tentativa de evitar a sensação de privação e escassez. Ainda, os medos que atravessam esse momento também são muito específicos: medo de contágio, de escassez, do impacto econômico, da morte de familiares, etc. Todas estas mudanças biopsicossociais denunciam como este não é um momento comum, por isso: não vai ser possível funcionar da mesma maneira e... tá tudo bem. É importante ter calma, não se cobrar muito e se lembrar de que este é um momento passageiro. Isso requer prestarmos atenção na nossa ansiedade, nos nossos hábitos e tentar manter, na medida do possível, uma rotina adaptada para este momento tão particular que estamos vivendo. Algumas pesquisas (Barros-Delben et al., 2020; Brooke et al., 2020) sobre momentos de crise e isolamento tem auxiliado na compreensão sobre como funcionamos e o que devemos evitar ou fomentar nestes momentos. Em linhas gerais, as principais orientações da Psicologia são de que é importante: 1) Ter os suprimentos necessários em casa, a fim de manter a sensação de segurança, mas tenha cuidado com o excesso de compras que fomentam o desespero e privam o acesso aos demais. 2) Criar estratégias para lidar com o isolamento: O que você gosta de fazer no seu tempo livre? É possível fazer isto em casa? Como adaptar isto a sua atual realidade? 3) Divertir e se comunicar: fale com os amigos por videochamadas, brinque com familiares, etc. 4) Manter-se informado. Informação é muito importante neste momento, mas cuidado com o excesso de informação e com as fontes que você acessa e propaga. É possível delimitar um horário do dia para você se atualizar e depois seguir com sua rotina? Uma recomendação final que acredito ser válida é: intercale atividades muito mentais (estudar, ler, criar algo no computador, etc) com atividades mais práticas e sensoriais (arrumar a casa, cozinhar, fazer um exercício, etc). Essa é uma maneira de dar um descanso para o excesso de trabalho mental que é próprio destes momentos de crise e estresse. Por fim, vale a pena lembrar: você não precisa produzir o tempo todo e nem se adaptar tão rapidamente as séries de mudança que estamos vivendo. Se achar que precisa de ajuda, busque apoio profissional. Vários psicólogos e psiquiatras estão atendendo a distância e poderão te orientar neste momento. Polyana Monteiro Luttigards, Psicóloga Clínica (CRP03-14443), Mestre em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia.

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